sábado, 3 de outubro de 2020

Aroma do caos III

 Por isso ele volta...


Quando eu olho pra ele, é como olhar para um espelho da melhor qualidade; daqueles que mostram todos os meus defeitos, até a mais recente ruga em minha pele ainda de pêssego com milhares de anos.


– Não desperdice minhas qualidades procurando meus defeitos- Falou Lucian aborrecido da última vez.


Duas criaturas místicas, de almas amarradas, de um nó quase impossível de desatar, tarefa que só cabe à Deus (em últimos e raros casos) quando se trata de demônios, vampiros energéticos e de sangue, bruxas, médiuns e meninos levados, principalmente os meninos, coitados.


Lucian me dá medo, Lucian me enfraquece, me suga e me cega.


É muita claridade de uma só vez.


Enquanto aguardo o retorno de meu noivo ausente, vou com Escarlate organizar as festividades de sabbath.


É outubro!


Celebremos à natureza, os seres, guias, deuses e todo o Universo!! Celebremos a primavera, as flores, frutos, folhas verdes e lagartos que saem ao sol. É tempo de celebrar e agradecer. Por aqui a celebração se inverte.


Lucian não participa dos ritos, é apenas citado.


(...)

Engana-se quem pensa que voto de celibato/castidade é exclusividade de freiras e padres, engana-se. Eu por exemplo, de tempos em tempos preciso me guardar. É que o sexo para mim não é tudo. Eu tenho autocontrole, e tenho sede de coisas grandes e poderosas. Sou da Alta Magia, as imundícias da carne, deixo para Lucian.


-Eu te chamo de demônio porque você é meu pensamento obsessor. Porque eu gosto de liberdade mas fico presa na sua espera- Eu dizia isso enquanto enchia a banheira de espuma para relaxar- Vamos continuar mantendo essa distância Lucian, não quero que você vá embora da minha vida, gosto de ter você nessa forma- Então tirei minha roupa, entrei na banheira e pedi gentilmente para que ele fosse pra sua casa.


-Não se dispa para mim e depois fuja- Dizia Lucian- Não me iluda Lilith.


Todas essas picuinhas eram os apelos de um pênis endurecido em busca de uma vagina qualquer para se instalar. Mas a minha vagina não era uma vagina qualquer, nada em mim era "qualquer.

(...)

domingo, 27 de setembro de 2020

O aroma do caos I I

 (...) Por muitos dias ele viajou comigo até aqui, era bom dormir com um sorriso diferente no rosto.


Não sabia o motivo que o trazia até mim todos os dias. Só sabia que era bom.


Ele nunca me deixa esquecer sua existência, o jeito como ele se move no globo é de todo, intrigante.


Antes a gente podia dançar a qualquer momento...


Agora celebro a roda dos hemisférios. Novo equinócio. Nova criatura querendo adentrar por aqui. 

 Pensamentos velhos que se renovam em minha mente. 

Pensamentos novos que se parecem com os velhos.


Flores daquela árvore amarela e lilás no chão. Eu nas nuvens. Ele no inferno?


Existiu um tempo, quando ele não vinha, que eu pedia para que viesse. Tolinha.


Por muito tempo quase implorei que viesse, mesmo sabendo que ele não tinha paradeiro.


Viajava, me deixava, me arrasava, me rasgava. Enquanto eu, no meu posto de rainha não podia e não queria abandonar o trono para o seguir. Então eu ia me banhar com ervas e me consagrar. Aí quando eu chamava ele me ouvia de qualquer lugar do mundo.


Antes de sua chegada, há um ano em meu quarto, eu o procurava em todos os cantos dentro de mim.

Chega e já se vai. Se vai e nunca chega. 

Nada se parecia com ele. Nem mesmo um raio de sua luz eu enxergava, no meu vazio interior e escuro, que de tão grande ecoava.


Ecoava a minha voz cantando.


Ecoava o choro do bebê, que naquele tempo me assombrava na janela.


Mas as vozes das nossas almas é que reverberavam.


Agora posso o reconhecer, está um pouco mudado, voltou nessa forma humana tão bela... meu noivo, o próprio.


Diz que seu nome é Lucian, um safado sentimental! Mas é no seu abraço que eu gostaria de morar de vez em quando, se nossa relação não fosse apenas celestial.


Por conta disso, na maioria das vezes eu acreditava que ele era um anjo.


Até ir embora e me deixar no escuro outra vez.


E então, depois de me judiar com sua ausência e despertar minha fúria, descarado ele voltava obsceno (e eu gostava). Eu dizia:


-Vá embora criatura horrível. Por que ainda vem? Jamais iremos transar.


– Venho porque você precisa de mim majestade, seus feitiços tem me alcançado. Só quero encostar em você um pouco, se permita.


– Se engana Lucian, sou da realeza. Os outros é que precisam de mim, embora eu não queira ninguém. Todos os meus cristais já me bastam, tenho tudo aqui! Não preciso mais de você.


-Mas minha amada, não sentes que te falta algo a noite? Tens o domínio sobre todos, todas, tudo e não tem sobre mim. Achou que esse seu magnetismo todo viria de graça Lilith? 


– Céus, como se ilude! Não envolva bruxaria na nossa relação. Meu magnetismo foi que te atraiu demônio. Abandone minhas propriedades sagradas e volte para todas as suas comuns- perdi as contas de quantas vezes pronunciei essa frase, nas tantas horas que ele foi e voltou.


Então descobri que sua luz intensa na verdade era igual a minha, e que quando havia uma aproximação as nossas luzes se multiplicavam e ficavam ainda mais reluzentes na escuridão.

(...)

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O aroma do caos, I

 





Leitores. Apaguei a maioria dos textos,  mas a novidade melhor é que voltei a escrever e principalmente a movimentar o blog. 





LILITH. O AROMA DO CAOS


No princípio, fez Deus as criaturas; algumas suas preferidas: o Homem e a Mulher. 

Fez Lilith a sua imagem e face feminina, do pó (exatamente). E depois fez o Adão. Mas Adão, queria mandar em Lilith. Ela não via motivos para obedecê-lo e não aceitou o cargo de submissa. Então Deus a castigou e a transformou num demônio, depois de bani-la do paraíso chamado Terra. Lilith e Lúcifer passaram a reinar juntos nas trevas. A serpente se enrolou sobre suas curvas, ela se transformou na própria serpente. 

Depois foi criada Eva, da costela já para não reclamar. Mas milhares de anos se passaram e Deus permitiu só agora, que Lilith viesse à Terra em sua forma original: em carne, alma e osso (porque ela é magra). 

Nesse monólogo , Lilith irá falar um pouco sobre como está sendo confusa sua jornada nessa missão, tendo que enfrentar barreiras que põem em risco seu desempenho como mulher alfa, acompanhe:


-O aroma do caos 


Estava tudo sob meu absoluto controle.


Eu corria livremente em direção à minha casa e pairava sobre o caos, admirando toda a grandeza de meu reinado.


Raramente eu olhava pra trás. Não havia mais nenhum perigo.


Como era boa a sensação de ver a ordem reestabelecida!


Minha pele brilhava ao sol, minhas unhas estavam duras e afiadas.


Nenhum inimigo declarou guerra outra vez. Foram vencidos. Eram todos meus aliados.


O aroma da vitória ficava pelos campos por onde eu passava. Era de uma erva cerimonial que eu costumava usar em meus rituais sagrados.


Eu estava bem, com meus campos energéticos alinhados.


Carregava meu herdeiro prometido.


Estávamos seguros e eu o protegia em meu ventre.


Isso bastava e me motivava para apresentá-lo em meu trono.


O meu poder estava triplicado e eu só precisava caminhar mais um pouco, até o destino final daquele ciclo que nós haviamos iniciado.


Então percebi que alguns passos leves se aproximavam de mim.


Ele vinha caminhando pelas sombras, manso e emitindo sua paz inconfundível.


O analisei por algum tempo e então deixei que se aproximasse a cada dia um pouco. Até chegar um tempo que não consegui mais ficar sem a companhia daquele ser encantador.


Deitávamos na grama e admirávamos o céu, dia e noite.


(...)