domingo, 27 de setembro de 2020

O aroma do caos I I

 (...) Por muitos dias ele viajou comigo até aqui, era bom dormir com um sorriso diferente no rosto.


Não sabia o motivo que o trazia até mim todos os dias. Só sabia que era bom.


Ele nunca me deixa esquecer sua existência, o jeito como ele se move no globo é de todo, intrigante.


Antes a gente podia dançar a qualquer momento...


Agora celebro a roda dos hemisférios. Novo equinócio. Nova criatura querendo adentrar por aqui. 

 Pensamentos velhos que se renovam em minha mente. 

Pensamentos novos que se parecem com os velhos.


Flores daquela árvore amarela e lilás no chão. Eu nas nuvens. Ele no inferno?


Existiu um tempo, quando ele não vinha, que eu pedia para que viesse. Tolinha.


Por muito tempo quase implorei que viesse, mesmo sabendo que ele não tinha paradeiro.


Viajava, me deixava, me arrasava, me rasgava. Enquanto eu, no meu posto de rainha não podia e não queria abandonar o trono para o seguir. Então eu ia me banhar com ervas e me consagrar. Aí quando eu chamava ele me ouvia de qualquer lugar do mundo.


Antes de sua chegada, há um ano em meu quarto, eu o procurava em todos os cantos dentro de mim.

Chega e já se vai. Se vai e nunca chega. 

Nada se parecia com ele. Nem mesmo um raio de sua luz eu enxergava, no meu vazio interior e escuro, que de tão grande ecoava.


Ecoava a minha voz cantando.


Ecoava o choro do bebê, que naquele tempo me assombrava na janela.


Mas as vozes das nossas almas é que reverberavam.


Agora posso o reconhecer, está um pouco mudado, voltou nessa forma humana tão bela... meu noivo, o próprio.


Diz que seu nome é Lucian, um safado sentimental! Mas é no seu abraço que eu gostaria de morar de vez em quando, se nossa relação não fosse apenas celestial.


Por conta disso, na maioria das vezes eu acreditava que ele era um anjo.


Até ir embora e me deixar no escuro outra vez.


E então, depois de me judiar com sua ausência e despertar minha fúria, descarado ele voltava obsceno (e eu gostava). Eu dizia:


-Vá embora criatura horrível. Por que ainda vem? Jamais iremos transar.


– Venho porque você precisa de mim majestade, seus feitiços tem me alcançado. Só quero encostar em você um pouco, se permita.


– Se engana Lucian, sou da realeza. Os outros é que precisam de mim, embora eu não queira ninguém. Todos os meus cristais já me bastam, tenho tudo aqui! Não preciso mais de você.


-Mas minha amada, não sentes que te falta algo a noite? Tens o domínio sobre todos, todas, tudo e não tem sobre mim. Achou que esse seu magnetismo todo viria de graça Lilith? 


– Céus, como se ilude! Não envolva bruxaria na nossa relação. Meu magnetismo foi que te atraiu demônio. Abandone minhas propriedades sagradas e volte para todas as suas comuns- perdi as contas de quantas vezes pronunciei essa frase, nas tantas horas que ele foi e voltou.


Então descobri que sua luz intensa na verdade era igual a minha, e que quando havia uma aproximação as nossas luzes se multiplicavam e ficavam ainda mais reluzentes na escuridão.

(...)