domingo, 19 de setembro de 2021

Davina domina

 

“Sabadou”, como essa gentarada festeira diz, inclusive Davina, que saiu rumo a um bailinho que era  para ser leve. 

Leve,  como seu peso no colo dos seus machos...

Digo seus, e de suas esposas na maioria das vezes. Mas era ela quem tinha a árdua  missão de realizar a cura espiritual em seus corpos, através do que ela sabia fazer de melhor: Dominar...

Uma breve pausa para a rima: Davina, divina, chega e domina....  

Ela atuava como Dominatrix, atendia homens  com  sede de alucinarem-se, queriam fugir de suas realidades miseráveis.

Miseráveis milionários! Miseráveis, empresários. Miseráveis policiais sadomasoquistas! Miseráveis vereadores. Miseráveis miseráveis do submundo!

E miserável da minha miserável preferida: Davina, divina, me domina..

Tem uma sina essa menina...

Ela ensina...

Assassina.

Assassina seus amores, digo. Vez  ou outra sente a necessidade de sacrificar um outro, desamar, desalmar, eliminar de sua vida.

Davina não tem amores. Davina tem dores.

Davina cura a dor dos seus clientes(pacientes ela diz), e assim,  sente que um pouco da sua dor também é curada em cada sessão.

Em cada corpo vivo que ela urina. Em cada corpo vivo e nu que ela bate. Em cada nojeira que ela faz nos quartos de motéis, hotéis, salas comerciais, delegaciais, quartéis, cemitérios, prefeituras, mansões,  florestas...

É... não é brincadeira. Os doidos estão por toda a cidade.

E... neste sábado, ela estava numa baladinha, onde vem sendo o “fluxo” das festas na cidade.

Pensou ela, antes de sair para o baile: “Eu só trabalho.. trabalho... atendo os doidos, deixo eles doidos...  hoje eu é que quero ficar doida, ou me sentir normal...e vou!”

Dessa vez saiu bem simples, seu look não combinava com a festa. Ela usava uma rasteirinha azul, calça verde e florida, e uma camiseta branca, florida também. Cabelo solto na cara, óculos vermelho da coleção Ana  Hickman.

Chegando no fervo, um segurança receptivo disse:

- Veio cedo hoje!

-Sim, hoje ninguém me escapa...

-Essa aí já é de casa- comentou  também uma mulher segurança da festa.

Revistou seus peitos, e  deixou- a entrar com seus amigos, os irmãos Bauers .

-Ainda bem que deixei minha “arminha”  no carro. tenho maus pressentimentos hoje– falou Davina para a irmã Bauer, sua amiga.

Chegando na festa, estava um calor infernal agradável rsrsrsrs

O irmão Bauer foi até o bar da festa para comprar bebidas, e as duas ficaram no segundo andar “dançandinho”.

Muitas pessoas conhecidas indo até elas para cumprimentar e pessoas desconhecidas também...

Davina levava uma vida secreta, por muito tempo, mas começava a perceber que era reconhecida e sua fama estava se espalhando por entre as pessoas, rápido demais.

-Você que é a Dominatrix da região?

-Não, ela é só uma personagem que eu criei há um tempo, mas eu Davina, sou uma pessoa diferente – rebatia ela, como se tivesse julgando a si mesma e deixando assim de lado os seus princípios.

Frustrada  ela estava, porque o eixo daquela situação (de ser a Dominatrix da cidade)  em que foi se meter parecia estar cada dia tomando maior proporção. Ela não estava  sabendo lidar com a ideia de “todo mundo” ali saber quem ela era, o que ela era ou que ‘ela era ela”.

Então, para se sentir normal, foi à procura de algo que a fizesse curtir a balada e dançar.

Procurou, encontrou.

 Encontrou um menino, se beijaram, e  por lá dançaram e tomaram umas aguas coloridas juntos.

Em seguida, Davina disse que queria mais um gole de sua água colorida, porém o menino recusou

-Por  que?  - Se indignou

-Se quiser mais um gole dessa bebida mágica, você terá que ir comigo até meu carro, lá tem muito mais...

Nesse momento, Davina foi tomada por uma força odiosa, e sentiu vontade de chorar.

Foi até o banheiro da festa chorar. Lá chorando, na fila do banheiro, o menino apareceu  e começou a rir:

- Tá chorando por que? Meee chorando por causa de drogas hahahahahahahah – debochou ele.

Ela nesse instante enxugou as lágrimas e incorporou a Dominatrix, com um belo e maligno sorriso no rosto.

Davina pensou:

-Esse guri nem faz ideia de quem eu realmente sou, ele acha que sou uma puta comum e barata! Agora eu vou mostrar pra ele quem que manda.

 

-Eu chorei porque interpretei mal o que você disse. Vamos lá fora agora então, no seu carro...

 

E o menino aceitou, empolgado porque iria “pegar a gatinha cafona” no carro. Lá foram de mãos dadas, desviando das pessoas que dançavam e curtiam cada um a sua vibe.

Saindo do salão principal da festa, chegaram num corredor escuro,  que antecedia a porta de saída do estabelecimento. E foi ali mesmo que a Dominatrix entrou em ação. Ela o jogou contra a parede, com muito ódio no olhar que, profundo  o encarava bem dentro de seus olhinhos assustados. Ela colocou suas duas mãos em seu pescoço e começou a apertar, apertar, e suas unhas afiadas cravaram na pele do pobre menino, que só queria transar.

Para a sorte do menino, um segurança chegou e o salvou das garras de Davina, que já se sentia bem melhor e aliviada.

 

Davina disse para o segurança:

-Eu só estava fazendo uma amostra grátis do meu trabalho e habilidades de Dominatrix. Toma aqui meu cartão de visita, senhor guarda, caso tiver interesse em agendar uma sessão – Deu uma piscadinha para o guarda e voltou para a festa, com o “sorriso de curinga” mais sensual que poderiam ver naquela noite, e, se contendo para não gargalhar.

 

O guarda olhou para o chão e avistou um pacote com vários comprimidos de ecstasy, enquanto o menino chorava aterrorizado  e ainda contra a parede. 

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