sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O gosto amargo de Marcela


 A RUA DA ZINA


Localizada na cidade de Navegantes, litoral de SC, há duas quadras da praia central. Ali onde o mar era traiçoeiro e violento, bem como as pessoas que ali habitavam; bem como Marcela, nova moradora daquela comunidade, ainda inocente. 

Ainda. Inocente. Se corromperia e ainda nem sabia. 

  Era uma rua comprida, com pequenos bares, lotados de meninas que vinham de todo Brasil com o objetivo de vender seus corpos, na noite. 

Na noite  e no dia. Na manhã e na tarde, porque eram turnos intermináveis de 24h por dia, onde as gerentes revezavam horários para trabalhar.

A rua da Zina nunca silenciava, assim como as lágrimas da menina Marcela, que acabara de cair ali de paraquedas, naquele antro de prevaricações e imundícias.

Marcela, era o nome de guerra da mais nova Acompanhante de Luxo, vulgo puta, que viera do interior, na tentativa de faturar um dinheiro com sua beleza, já que, com seu talento ela havia desanimado.

Marcela era seu nome de guerra. Marcela. Guerra. Quase rima.... 

Guerras, viriam depois.  

 Ela disse que era Marcela como aquele chá: ruim, mas que quando a "coisa enfeiava " todo mundo procurava pra curar suas dores de barriga da vida.

Era quase véspera de natal. Dezembro de 2018, foi numa madrugada daquele maldito verão. Digo  maldito com todas as minhas forças. Maldito! 

Maldito verão de Marcela! Maldita hora em que acreditou Marcela,   que  uma semana no litoral se prostituindo iria resolver sua vida maldita. 

Coitada daquela maldita...

Desceu  na rodoviária de Itajaí, apenas com uma mochilinha nas costas, contendo umas três peças de roupas e mil preocupações. Um motorista de Uber a aguardava, ordenado pela dona do estabelecimento onde a jovem iria trabalhar. Atravessou a balsa Ferry Boat pela primeira vez, em direção há uma das muitas casas de prostituição de Navegantes, uma boate chamada Dellas Bar. 

O carro foi estacionado em frente aquele lugar que tinha uma placa quadrada e rosa, com o desenho de uma mulherzinha preta de salto alto, segurando na mão uma taça fina.  Ela desceu, assustada, e já foi recepcionada no portão por um gay muito sorridente chamado Lucas. 

-Seja bem vinda, se quiser já pode ficar no salão trabalhando Marcela! Vou te mostrar!

-Prefiro ir dormir agora, pois a  viagem  foi cansativa! 

- Como preferir gata! - disse a pessoa sorridente -Você só trouxe essa bagagem Marcela?

-Não, eu trago também a bagagem emocional, essa é bem pesada, mas ninguém precisa me ajudar a carregar. E mesmo se quisessem, não poderiam.

-Então, amanhã vamos arrumar um quarto pra ti, a casa está lotada esse mês. 

Lucas a mostrou o salão e apresentou a moça pra gerente daquele turno.  A gerente se chamava Fernanda, sua esposa.  Sua esposa que era travesti. 

 (...)








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