quinta-feira, 31 de agosto de 2023

CONTO: O RANCHO ASSOMBRADO



 

O Rancho assombrado

-Táxi, me deixe aqui mesmo

-Tem certeza senhorita Mei? Não tem nada aqui

- Como não, olhe para o alto daquele barranco, a névoa está forte mas ainda se pode  enxergar  as luzinhas piscando. Também consigo enxergar perfeitamente homens fortes uniformizados na porta, o que me indica ser um local seguro para alguém da minha classe.  Ainda não consegue enxergar nada, motorista? – respondeu a jovem

- Consigo, me desculpe. Preciso  de novas lentes. Mas o que eu quero dizer é que   uma celebridade internacional  como a senhorita bem me  parece, não  irá se sentir bem com as pessoas que frequentam aquele ambiente, nem mesmo se sentirá alegre ou relaxada no ambiente.  Já notou quantas escadas terá que subir até chegar na portaria? E que não existe elevador?   

-Isso não será problema para mim, se for o caso, me transformo numa mariposa e voo até aquele segurança que está na porta- usou ela seu humor negro

O segurança, lá de cima a avistou, era um fã:

-Senhorita Mei é você!!!! Eu não acredito!!! Vou até descer aí te buscar.

Ela nem fez questão de perguntar o nome dele, afinal, todos me conheciam ali, eu era a ex--alguma coisa do dono do estabalecimento, um tal de Goeten

Ao adentrar no local, já percebeu a densidade no ar daquela atmosfera.

Era um rancho  de madeiras velhas, rústico e  abandonado.

Ao olhar para a bancada de bebidas, avistou  duas mulheres fantasiadas com langeries de sexys shops baratos. Uma delas, usava um conjunto de Motoqueira, e a outra, usava algemas e boné de policial. Ambas estavam para dentro do balcão, abraçadas com o Goeten, um magricelo metido a banddido, mas que não passava de apenas mais um louco daquele reduto.

Quando Srta Mei  caminhou em direção ao balcão pra pedir seu drink, lançou a praga para o primeiro desconhecido que a olhou com ar de julgamento e nojo, devido as suas vestes de cigana.

-Olhe dentro dos meus olhos, preste atenção no tom da minha voz e no que eu digo: você vai sonhar comigo, eu vou aparecer no seu sonho e você vai se lembrar de mim para sempre!

O homem praguejado ficou paralisado e sem piscar, suas pupilas arregalaram-se , como se ele estivesse sob efeito de alguma droga que travava.

Até mesmo ela se impressionou com o impacto de sua praga sendo rogada ao vivo naquele salão.

As putas pararam de algemar o dono do Rancho, e ele, Goeten, tentou amenizar a situação:

-Ela está brincando com você amigo, é o jeito dela, né? – Indagou olhando pra ela, para que ela afirmasse

-Sim, eu estou brincando, é meu jeito- Concordou ela, demonstrando na expressão facial, um suave sarcasmo. 

E no palco o conjunto regional estava a animar a festa. Quando o vocalista Beto reconheceu a artista local e a convidou para subir ao palco e fazer oque chamam de "canja" no meio musical.


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O homem que eu esfasquiei e virou um encosto

 

1-O homem que eu esfaqueei e virou um “encosto”

Que Deus o tenha, primeiramente. E acima de tudo, que ele vá para luz. Eu acho que ele foi mesmo, pelo tanto que foi rezado por sua alma, desde quando se manifestou no terreiro.

Os maços de velas que eu acendi, os Pai Nossos e as Aves Marias, os defumadores que acendi  na porta de casa dizendo:

-Aqui você não entra, aqui você não entra, aqui você não entra!

Quando ainda vivo, o conheci numa boate em Navegantes, próximo  a meia-praia.

Naquele tempo em que eu era apenas uma alma perdida na vida, fui estuprada por um bando de homens de uma facção.

Acordei numa casa de tijolos, deitada no chão sem calcinha.  Sentia dor no corpo, estava com queimaduras de bitucas de cigarro na coxa,  e pequenos cortes na vagina.

Lembro que já havia sentido aquela sensação antes, deveria ter sido um “cinderela”.

É horrenda a sensação de acordar pelada, sem lembrar de nada e com um estranho sorrindo pra você.

- O que aconteceu?- Perguntei ao homem, enquanto procurava minhas roupas naquele ninho imundo.

-Você não lembra? – respondeu com outra interrogação.

-Não lembro.

-Você estava com um cogumelo gigante, drogou todo mundo – Dizia e ria.

Enquanto eu me vestia, uns flashes da noite anterior apareciam na minha lembrança. E não eram imagens bonitas. Abri a bolsa imediatamente e senti falta de um documento muito importante que eu carregava comigo: meu Alvará de Soltura da prisão.

 

“Isso foi uma armação, claro”- pensei.

Saí correndo de lá e fui até o mocó onde eu me escondia, na casa de um servo, era assim que u chamava alguns homens que reconheciam a rainha que eu era, mesmo sendo uma rainha da rua, da sujeira, do craque, da desgraça.  Mas mesmo eu estando desgraçada, eu ainda tinha sorte e meu cérebro às vezes colaborava, digo, meu instinto colaborava. Quando eu não estava me metendo numa cilada, eu estava fugindo de uma alguma.

Chegando no mocó, cheirei um pó e fiquei ativa. Ligamos  os pontinhos, juntei as pistas e decidi que iria  as caças de quem me fez aquela maldade.

As meninas de Caçador eram conhecidas naquela região pela fama de “faca na bota” , e eu honrava o nome das caçadorenses, era destemida, já vinha de muitas guerras...

-Marcela, você está toda machucada, e essa ferida na sua testa? O que é esse triângulo? Quem fez isso em você? –Interrogava- a, o servo, preocupado enquanto me preparava uma limonada.

-Isso aí eu que quis fazer no dia do meu aniversário. Foi uma tatuagem sadomasoquista com arame de ferro quente.- respondi.

-Você é muito doida Marcela, é disso que eu gosto em você. Não é como as outras, é muito doida. Vamos lá na restinga da praia dar um fincão? Ou aqui mesmo? – Pronunciava as palavras eufórico, baixinho e gargalhando entre uma palavra e outra.

-Agora não posso, servo Leonel. Tenho uma alma pra sacrificar.

Esperei escurecer, me fantasiei de prostituta, e fui caçar. Eu queria vingança com as próprias mãos, era assim que eu agia: eu por mim. Já estava acostumada com a ideia de que nenhum mocinho iria aparecer pra me salvar.

Eu saí do mocó com destino certo, era na mesma rua a zona onde eu iria encontrar algum daqueles homens que me fizeram maldade na noite passada.

No caminho avistei um deles na esquina conversando com a polícia. Achei estranho, afina aquele cara era traficante e também matador de uma facção muito forte que atuava na milícia regional. Logo desconfiei.

Quando eu estava quase chegando na zona, o servo Leonel me alcançou de bicicleta e disse:

-Marcela, cuidado, o Pedro contou que viu você levando um pau da polícia ontem, que te apagaram e colocaram você na viatura. 

-Onde?- respondi

-Próximo ao déc da praia – disse

-Hmm, agora tudo faz sentido. Já sei o que houve.

-Te cuida o Marcela, te espero.

-Eu apareço

-Uma hora ainda vão te apagar, eu oro pra Deus por sua vida, pra que não te achem morta nessa praia um dia desses.

-Eu sou a Marcela, sou ruim lembra, não morro fácil.

Chegando na porta da boate, vulgo zona, identifiquei um deles. Estava  bebendo com duas mulheres, e o Pintado estava junto. O Pintado era o matador da facção que há uns minutos atrás estava de conversinha com a Polícia militar na esquina, foi com ele que eu comecei a noite anterior, antes dos policiais me baterem e me jogarem dentro da viatura. “Será que o Correia me bateu? Como ele teria coragem? Acho que teria sim porque uma vez ele me espirrou pimenta na boca’”. Correia era um dos soldados por quem eu era apaixonada na época, mas não vem ao caso agora.    

-Oi Pintado, oi Alex! Hoje eu quero beber com você Alex! – Pintado estava muito ressabiado. Evacuou do local imediatamente com minha chegada.

Então entrei em ação.

Roubei Alex das meninas que estavam com ele na mesa, sentei em sua perna, bebi uma cerveja e segui com o plano.

Eu queria mesmo era me vingar do Pintado, que armou toda aquela emboscada. Mas ele não era uma presa tão fácil. Então escolhi Alex pra ser minha vítima.

“ Seria a polícia que roubara meu Alvará de Soltura ou o faccionado?”

  Eu havia sacado tudo o que havia acontecido. Até as putas me olhavam diferente e cochichavam pelos cantos. 

-Quero que você vá passar a noite comigo, vamos cheirar uma “borsa” , estou apaixonado por você Marcela. Por favor venha comigo, saia desse lugar. Deixe eu cuidar de você- Dizia minha vitima

-Deixo. Quer ser meu servo sexual então?

Até hoje me surpreendo com meu poder de sedução daquela época. Mesmo eu lá com aqueles dreads no cabelo e com ferida na testa, a minha persuasão e magnetismo eram sempre infalíveis quando eu me obstinava à missão que fosse. Eu já era pra ter dominado o mundo...

Mas até então eu dominava apenas aquele momento.

 -Moro aqui perto. Eu estou de moto, mas trouxe apenas um capacete- Disse Alex

-Então vamos , não tem problema – Respondi

Subi na moto na garupa de sua moto, sem capacete mesmo. Era noitinha. Ele acelerou e meus dreads pretos voaram. Dreads  que eu mesma havia feito naquele aplique barato.

Chegando em sua casa, subimos uma escadaria de madeira até seu quarto, que era uma espécie de sótão. 

A casa era bem rústica, inacabada.

Depois que cheiramos toda cocaína, transamos. Lembro que foi um tanto sofrido aquele sexo, visto que  aquele homem estava sob efeito da droga estimulante. Ele parecia um adolescente apaixonado, falava até em casamento; enquanto em minha mente vingativa só havia um desejo: livrá-lo daquela vida.

Quando então, finalmente, ele dormiu. Finalmente.

Eu vesti minha roupa, desci aquelas escadas e fui até a  cozinha. Abri a gaveta dos talheres e peguei a maior faca que eu encontrei.

Subi lentamente os degraus até o sótão para que o homem não acordasse.

 Ele dormia de se babar. Fiquei olhando pra seu pescoço por uns minutos, para ter certeza de que era aquilo mesmo e  que eu não iria me arrepender. 

“É agora menina”, eu pensava. Então segurando a faca em pé, golpeei seu pescoço com um furo. Lembro que a textura de sua pele era muito grossa e no segundo golpe ele acordou com os olhos arregalados. Continuei o esfaqueando, pela região do pescoço e do peito. Muito sangue saia, escorria e jorrava em minha direção, especialmente em meu rosto. Mas eu não queria parar de esfaqueá-lo, mesmo ele pedindo pra eu parar, até que ele segurou em meus pulsou e tomou aquela faca  enorme e sem fio de mim. Eu deveria ter verificado se a faca estava boa de fio, ou deveria ter passado a faca precisamente em alguma veia carótida . Mas falhei.

Falhei pela segunda vez, em minha segunda tentativa de tirar uma vida humana.

-Por que você fez isso comigo? O que eu fiz pra você?- Ele perguntava com os olhos vermelhos de espanto

-Por que vocês fizeram aquilo comigo? Olha o que vocês fizeram comigo! – Eu gritava chorando, com medo que ele me matasse.

- Vou ligar para os bombeiros- Falei arrependida

-Vá embora daqui, desapareça da minha casa- Então ele soltou meu braço, eu abri a porta e saí correndo

O dia estava já clarinho. Na rua, notei que eu estava perto da delegacia onde eu era popular por lá. Cheguei desesperada e ensanguentada, por sorte quem estava de plantão era o Agente Marcos.

-Tem um homem morto há duas quadras daqui, eu matei ele, me estupraram, ele deve estar morto agora – Eu dizia eufórica e em choque

-Meu Deus menina, você precisa ir  embora dessa cidade, vá embora daqui, desapareça da orla – Ele me olhava preocupado, coitado

Então eu saí da delegacia e fui em direção à orla da praia. Tomei um banho de mar, lavei o sangue do meu corpo.

Dormi numa daquelas casinhas de madeiras que fazem parte do déc da praia. Tentei dormir, porque eu estava com o coração disparado de adrenalina. Logo chegaram uns bêbados da rua já conhecidos. Com eles bebi pinga pura, fumei pedra e depois perambulei pelo centro da cidade.

Eu estava com a roupa só os trapos, tinha mania de rasgar minhas roupas pra parecer uma andarilha sensual.

Passou-se um dia inteiro.  Voltei pra famosa “rua da zina” e pra minha surpresa, enquanto eu bebia um martelinho já cedo num boteco, avistei Alex, com curativos no pescoço, carregando no colo, uma menininha de uns 3 anos de idade.

Eu vi ele, e ele me viu, abaixou a cabeça e seguiu.

 Nunca me esqueço do olhar triste daquele homem. Antes de eu me reabilitar ainda o vi algumas vezes naquela mesma rua. Recordo que ainda o pedi perdão naquele mesmo bar e nos abraçamos. Talvez eu tenha sido a mulher mais louca que cruzou  seu caminho.

Hoje fazem 4 anos que me libertei do craque  e superei a rua.

Conheci um empresário Italiano que me tirou das ruas e enxergou um ser humano bonito em mim.   Me reabilitei, me tratei dos traumas, encontrei pessoas boas que tiveram paciência comigo durante esse  processo.

Comecei a trabalhar como médium num terreiro de Umbanda, ali foi onde pude entender muita coisa sobre o que aconteceu no meu passado. A fé me ajudou a sarar, me encontrar, e “firmar a cabeça”.

Há alguns dias atrás, eu estava sentindo uma tristeza muito grande, que parecia não ser minha. Eu chorava o dia inteiro no meu trabalho, e chorava de soluçar, tudo era motivo de choro.

Então durante uma sessão no terreiro, uma entidade de luz que estava incorporada numa das médiuns da casa olhou pra minha direção e disse:

-Eu não quero ele aqui, ele pode estar aqui

-Quem?- Eu perguntava, enquanto sentia um arrepio gelado encostando em meu corpo, era ruim aquela energia

-Tem um homem aí com você, um baixinho, moreno – Eu não fazia ideia de quem poderia ser

-Ele morreu há 3 anos e ele está te acompanhando, ele está muito triste com você – Dizia a mulher incorporada

Os outros médiuns, incorporados e desincorporados, estavam assustados também com aquela situação incomum no terreiro. Aquele espírito sofredor estava ali, e eu me segurava pra ele não se manifestar em mim.

Então me aproximei do Guia  e pedi baixinho:

-Quem você está vendo? Eu não sei

-É um homem que você feriu, ele morreu e não encontrou a luz ainda, por isso te segue, essa tristeza que você sente não é sua

-Mas eu não matei ele, eu lembro. Eu vi ele vivo dias depois que eu o esfaqueei, não é possível

Então, todos os médiuns vieram em volta de mim, e eu me segurava, me continha  pra ele não” baixar” em mim, até que ele “baixou”, e estava furioso. Ele abaixou a cabeça, olhava por baixo e com muito ódio.  Lembro da força do seu ódio em mim. Mas mesmo eu sendo ainda uma médium em desenvolvimento, consegui mandar ele embora, pois eu também era forte, e sou forte, muito forte. Também com a ajuda das defumações e rezas em volta de mim. Senti muito medo, mas ele se foi dali, e o ambiente suavizou.

-Quando chegar em casa fia, antes de entrar na porta, acenda esse defumador e repita três vezes “Aqui você não entra”. Você é muito forte fia, não se culpe pelo seu passado, aqui ninguém está te julgando.  Você é a nossa menina. Você está indo muito bem menina, salve!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

A amante enlutada no bar

 


 


Marcela viu um homem se apaixonar por ela e em seguida, ele morrer.

Ela colocou o vestido que usou na noite em que  se apaixonaram. Maquiou-se, colocou um dos seus  sapatos pretos e foi beber, sozinha, no bar que outrora fora cenário de  novela mexicana: A artista e o político, bêbados, escancarando para a sociedade que eram  cúmplices de um adultério dos bons.

Aquele bar já presenciou aquela mulher chorar por tantos sujeitos, por tantas situações.  E aí quando ela começou a conhecer a felicidade e finalmente  beber com alguém e não por alguém, seu romance acabou em tragédia. Uma tragédia muito, muito trágica, merecedora desse pleonasmo proposital. Pois uma fatalidade aconteceu com a morte de seu mais recente e melhor amante, e por isso naquela quarta atípica, ela sozinha, bebia seu chopp  e um outro licor, relembrando os momentos de adrenalina que ali viveram, dias antes da fatalidade.

Naquele bar de rock ela já se lamentou sobre o seu amante milionário, porque ele preferia órgãos masculinos...

Lá também ela se lamentou até por um delegado, que de romântico e espiritual, evoluiu para assediador moral e físico...

Naquele bar ela cantou, dançou, tocou, foi beijada na fila do banheiro, ficou presa no banheiro, sentou na calçada, sentou na escadaria, brincou no banco giratório do balcão, como se estivesse num parquinho de diversão. E lá era mesmo um parquinho, o parquinho dos adultos.

 Naquele bar ela flertou com homens que a viram tão bêbada, que nunca passaram do flerte. Ela já foi do palco ao chão, já recuperou a dignidade que lá mesma havia perdido.

E etc e tal. E tal e coisas.

Quero deixar claro que esse causo não é sobre um bar, é sobre um homem que morreu, deixando para trás família, esposa, uma cadeira no plenário e uma amante chamada Marcela, essa Marcela mesma, a intensa e autêntica Marcela!  Marcela, que amava  6 homens ao mesmo tempo, e nenhum a amava de volta, alguns sequer sabiam. Exceto o falecido. Ele sabia. Ele retribuía.  Mas daí.... ele morreu.

Voltando a cena do bar... ela com o vestido que o morto gostava, sentada no seu banco giratório num cantinho perto do banheiro, três dias após o acidente, a amante estava no bar pela primeira vez após a morte de Rick.

-Um chopp moça! – pediu pra garçonete, que pronta a atendeu.

Naquela noite, Marcela bebia e não sorria. O dono do estabelecimento que bem conhecia seus clientes fiéis, percebeu o semblante cabisbaixo da amante enlutada no seu bar, e perguntou:

-O que aconteceu que está triste Marcela?

Então ela desabafou:

-Eu vi um homem se apaixonar por mim, e em seguida morrer.

Ainda está vivo na minha lembrança o seu olhar no nosso primeiro contato visual.

Eu desci da caminhonete de minha amiga Meg, com o vestido vermelho acinturado mais vivo daquela primavera, e desenhos de flores brancas como detalhe.

Era aniversario de um homem chamado Rafaelo, e fomos convidadas por um convidado para irmos até aquele quiosque que pertencia ao homem que vi se apaixonar por mim e morrer..

 Se não fosse termos entrado de “penetra”, todas as minhas lágrimas dos dias atuais seriam evitadas, pois eu não teria conhecido  o vereador; mas aí, os espontâneos e automáticos sorrisos que trocamos a partir daquela noite, também não teriam existido. E o olhar magnético mais forte que já vi, também nunca teria atingido o meu olhar.

Estávamos todos alegres demais, eu com um copo de chopp na mão, descendo do carro, ele tomando Gin, ao lado de sua esposa e familiares. Parado, curioso para saber quem estava saindo de dentro da Ranger cinza. Saíram 3 belas mulheres, uma loira, uma ruiva, e do banco de trás, uma morena que era eu, eu e meu belo par de olhos arregalados e ligeiros, que imediatamente o avistaram. Meus olhos  viram os olhos de Ricardo olhando para mim, e se dilatando. E foi naquele instante, que algo químico, físico, atômico, divino, cósmico, sublime, raro, quente e predestinado aconteceu: eu vi aquele homem se apaixonando por mim.

Irradiávamos juventude, beleza, simpatia, educação, alegria, vitalidade, intelectualidade.  Estávamos vibrando muito alto, e nem era culpa do álcool, era culpa de algo muito maior que eu chamo de: destino.


 Como eu iria imaginar que meses depois iria vê-lo pela última vez neste plano terrestre , morto dentro de um caixão, no Plenário Municipal.

- Sinto muito Marcela- Disse o dono do bar- Foi uma perda lamentável para nós amigos do bar

-Mas ele não era um bom político, não fazia nada, nem aparecia - Se intrometeu na conversa uma loira artesã que também bebia no balcão.

E no ambiente sonoro ao  fundo, The doors- LA woman. 

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Eu sou apocalíptica!

 

Meu mestre percebeu a presença de um ser estranho querendo adentrar em meu campo gravitacional.

Meu mestre, sábio que é, sentia que aquela aproximação poderia ser perigosa e fatal para mim. Natural de seu instinto protetor.

Para meu mestre, Lúcifer, eu sempre fui uma musa, uma divindade. Ele me ama, me cuida, e eu gosto de receber o amor que ele me dá, e que só aumenta a cada encontro.

Diferente do intrigante “homem do terno azul” que se aproxima de mim.  Para ele eu sou apenas uma presa suculenta e corada, fresca e ideal para ser devorada e depois largada só a carcaça ao  habitat natural.

 Ele me caça e eu assustada, fujo. Ele me procura já há algum tempo através de seu inconsciente. Então eu corro  e desafio as leis da física para me proteger de seu ataque.

 Ele não irá me encontrar tão cedo, depois que meu mestre, me emparedou e disse:

-Lilith, se afaste o quanto antes desse homem. Nós somos das artes, criamos belezas, enfeitamos o mundo. Ele encobre feiuras, e por isso é incapaz de apreciar a sua magnitude, que eu tanto venero.  

-Eu sei de tudo isso! Eu sei mestre! Mas o que hei de fazer se ele vier até mim?

-Não deixe ele entrar mais na sua vida! Bloqueie-o. Não permita que ele encontre espaço para chegar até você, ou então serei eu que me afastarei de ti!

As palavras de Lúcifer, martelaram na minha mente, eu nunca havia visto ele naquela forma antes. Já o vi como o Guardião do tempo, como o  Guardião da luz, mas ele falava dessa vez como um pai preocupado em perder sua filha para o verdadeiro mal.

 -O que são sangue de animais comparado ao sangue de pessoas? - Filosofava Lúcifer.

Seu discurso de alerta, me fez relembrar o quanto  sou incrível, eu que  vibro na quarta dimensão!! O meu caminhar e os meus movimentos, mesmo que lentos, fazem barulho  e meus passos são escutados lá longe, nas mais altas coberturas, onde meu cantar sombrio reverbera.

Mesmo que o “homem do terno azul” não queira me sentir, ele me fareja com todos os seus sentidos porque é inevitável e seu instinto de alfa, anseia em me dominar e sentir o gosto de minha carne, de minha carne inteira...

-Mas eu sou indomável, Lúcifer!  Já sobrevivi a muitas guerras e muitos ataques ferozes, ele não vai me possuir! Não duvide de minha lealdade a você! Mas se ele se dirigir a palavra, responderei porquê sou educada e acima de tudo, como bem sabe, sou política! –respondi ao mestre

- Você é apocalíptica Lilith!!! Você está além da compreensão deste sujeito predador! Seja um mistério, não se abra! Só de falar nesse homem sujo eu já me sinto carregado. Para o nosso bem, elimine-o da sua vida já, antes que as verdadeiras trevas assombrem nosso reinado!

 

A sala silenciou. 

Em seguida, eu repeti 6 vezes: Eu sou apocalíptica! Eu sou apocalíptica! Eu sou apocalíptica! Eu sou apocalíptica! Eu sou apocalíptica! Eu sou apocalíptica!

Acatei as palavras do meu mestre amado, segui minha trilha, um pouco desnorteada e  até abalada com o diálogo pesado que tivemos. Mas segura de minha intenção: não deixar o “Homem do terno azul” chegar perto de meu campo gravitacional.

Então, para o bem de minha tribo, acendi uma vela preta e fiz uma reza:

-“Para que eu não venha a me queimar com o seu fogo, homem, que ele se apague. Para que eu não venha a ruir tentando te concertar, que você encontre a paz em outro corpo. Para que eu não acabe desvairada, que a terra firme meus pensamentos e te afaste também de meu cérebro! Para que tu não percorras  mais as propriedades sagradas de meu corpo, que o vento te leve para bem longe de mim, homem do terno azul”.

A vela demorou, e com certa resistência ,queimou . Ali restou apenas escuridão, o silêncio, e, no ar vazio, o cheiro daquele incenso de Iemanjá, nossa mãe.


sexta-feira, 1 de outubro de 2021

O gosto amargo de Marcela


 A RUA DA ZINA


Localizada na cidade de Navegantes, litoral de SC, há duas quadras da praia central. Ali onde o mar era traiçoeiro e violento, bem como as pessoas que ali habitavam; bem como Marcela, nova moradora daquela comunidade, ainda inocente. 

Ainda. Inocente. Se corromperia e ainda nem sabia. 

  Era uma rua comprida, com pequenos bares, lotados de meninas que vinham de todo Brasil com o objetivo de vender seus corpos, na noite. 

Na noite  e no dia. Na manhã e na tarde, porque eram turnos intermináveis de 24h por dia, onde as gerentes revezavam horários para trabalhar.

A rua da Zina nunca silenciava, assim como as lágrimas da menina Marcela, que acabara de cair ali de paraquedas, naquele antro de prevaricações e imundícias.

Marcela, era o nome de guerra da mais nova Acompanhante de Luxo, vulgo puta, que viera do interior, na tentativa de faturar um dinheiro com sua beleza, já que, com seu talento ela havia desanimado.

Marcela era seu nome de guerra. Marcela. Guerra. Quase rima.... 

Guerras, viriam depois.  

 Ela disse que era Marcela como aquele chá: ruim, mas que quando a "coisa enfeiava " todo mundo procurava pra curar suas dores de barriga da vida.

Era quase véspera de natal. Dezembro de 2018, foi numa madrugada daquele maldito verão. Digo  maldito com todas as minhas forças. Maldito! 

Maldito verão de Marcela! Maldita hora em que acreditou Marcela,   que  uma semana no litoral se prostituindo iria resolver sua vida maldita. 

Coitada daquela maldita...

Desceu  na rodoviária de Itajaí, apenas com uma mochilinha nas costas, contendo umas três peças de roupas e mil preocupações. Um motorista de Uber a aguardava, ordenado pela dona do estabelecimento onde a jovem iria trabalhar. Atravessou a balsa Ferry Boat pela primeira vez, em direção há uma das muitas casas de prostituição de Navegantes, uma boate chamada Dellas Bar. 

O carro foi estacionado em frente aquele lugar que tinha uma placa quadrada e rosa, com o desenho de uma mulherzinha preta de salto alto, segurando na mão uma taça fina.  Ela desceu, assustada, e já foi recepcionada no portão por um gay muito sorridente chamado Lucas. 

-Seja bem vinda, se quiser já pode ficar no salão trabalhando Marcela! Vou te mostrar!

-Prefiro ir dormir agora, pois a  viagem  foi cansativa! 

- Como preferir gata! - disse a pessoa sorridente -Você só trouxe essa bagagem Marcela?

-Não, eu trago também a bagagem emocional, essa é bem pesada, mas ninguém precisa me ajudar a carregar. E mesmo se quisessem, não poderiam.

-Então, amanhã vamos arrumar um quarto pra ti, a casa está lotada esse mês. 

Lucas a mostrou o salão e apresentou a moça pra gerente daquele turno.  A gerente se chamava Fernanda, sua esposa.  Sua esposa que era travesti. 

 (...)








terça-feira, 28 de setembro de 2021

Lilith, no paraíso de pedras

 

LILITH acorda mal vestida, quase desnuda numa rua suja, entre pessoas sujas; assim como ela .

 - Que lugar é esse? (Olha para as mãos com espanto) aqui não é o inferno! Com certeza eu não estou nas profundezas do umbral. Isso aqui é  a Terra.  Estou na Terra? Depois de taaaantos anos! Que cheiro é esse? De urina, fezes...Que nojo!  Nunca imaginei que iria sentir saudade do cheiro de enxofre.

 Todas aquelas pessoas sujas, estavam já há muitos dias  ali.  Amontoados no chão, apodrecendo vivos, encostados naquele muro do pontal de Itajaí.

 Você também veio Lúcifer?-  Ela o procura com seus olhões  entre os homens barbudos que estão ali fumando no paredão.

- Esse cheiro é insuportável  nessa Terra! Oh, ao menos não tenho cascos e asas  pesadas, nem meus chifres- Levanta e começa a se mexer estranhamente, se ajustando ao corpo. Se olhando e se tocando.

Grita: Então é isso Deus? Me mandou pra Terra, mesmo? Pra me redimir por ter preferido Lúcifer ao invés de Adão?

 Ok. Ok. Ok. OK. Ok. OK

 Deixa eu absorver essa informação, Universo!

 Ela senta, quieta, se olha, se coça, procura algum espelho... coça  com as duas mãos a cabeça. Depois, tira do seu bolso um documento, com o nome de Marcela e um cadastro de moradora de rua. -Mas o que é isso Deus? Eu reinava no inferno e me atirou entre os mendigos? E essa pedra de craque aqui é pra eu fumar também?

 Então... sendo assim, provarei.

Pega aquela pedrinha amarela, a qual a textura é semelhante a de um giz de cera.  Enrola a droga num pedacinho de Bombril, ajeita  no cachimbo de ferro, e, fuma.

 -Eu sou magnífica! A criação mais perfeita do  Pai.

Sou até poeta agora, e eu era uma demônia quando habitava o inferno.....

Mas isso é passado...

 Ouçam meu poema, quietinhas, pobres filhas de Eva! E filhos também, coitadinhos!

 Agora eu reinarei pelas valas, e vocês devem servir a mim. Sabem por quê? Porque eu fui a primeira mulher que pisou nesse solo! Entenderam? Não queiram provar da minha fúria.

 Vamos lá. Todos vocês olhando para mim agora!

Algumas pessoas olhavam pra ela e riam e outros gritavam:

- Maluca!

Mas ela insistia em fazer o seu show:

- O poema:

-Feminilidade, é tudo que uma mulher é. E o homem, é que vem da mulher. Concordam?

-Nãão! –responde a plateia.

-Lúcifer concorda comigo, não é meu amor? (Fala olhando pro lado, como se estivesse o vendo) Que vc concorda comigo sempre? ... O útero, os seios, mamilos, leite materno, choro, risada, pranto, visuais amorosos, perturbações amorosas e ascendência. A voz, articulação, sussurro, grito alto. Comida, digestão, suar, dormir. Andar, nadar, controle nos quadris. Saltos, bamboleio, abranger, curvar os braços e apertar. As mudanças contínuas no franzir da boca e ao redor dos olhos. A pele, marcas de sol, sardas, cabelo. A simpatia que eu sinto com a mão na carne nua do corpo. Quando estou nua. Que corpo belo Deus me deu! O ciclo de respiração. A beleza da cintura, daí o quadril, e daí para baixo em direção aos joelhos. As geleias vermelhas finas dentro de você ou de mim, mulher. Os ossos e a medula nos ossos. A relação extraordinária de saúde. –“Não me interrompa Lúcifer, já falo te dou atenção. Posso terminar meu poema? Obrigada.” - Oh, digo que essas não são partes e poemas só do corpo, mas da alma. Oh, digo agora, são atributos da alma! Bendito seja o homem que possa um dia conquistar-me. Que possa conquistar-me como mulher.  Eu sou uma mulher! Oh! Céus! EU. SOU . UMA. .MU.LHER! - Ri com espanto.  Ei Deus! Papai! - grita olhando pro alto- poderia ter ao menos mandado meu amor Lúcifer pra viver nesse mundo atroz comigo? Não sei se vou conseguir sem ele.... -Ahhh - grita- eu sou uma rainha não uma “casqueira” -Lúcifer! Eu quero você aqui comigo  meu noivo, meu rei, meu eterno! Lúcifer! Lúcifer? Venha até mim, Lúcifer! Não se demore, Lúcifer! Eu te amo!

 

Após recitar todos esses devaneios, perambula pela rua atordoada e chamando loucamente por Lúcifer (como sempre). Outra  vez , ela ouve um barulho ensurdecedor, e fortíssimas luzes iluminam a escuridão. Os “nóias” saem correndo quando avistam as ambulâncias e viaturas policiais chegando.  

-É você Lúcifer? – Caminha lentamente  em direção aos carros e logo é silenciada, através de agulhas com sedativos.

O paraíso de pedras torna-se quieto e novamente calado e apagado, tal como Lilith. 

domingo, 19 de setembro de 2021

Davina domina

 

“Sabadou”, como essa gentarada festeira diz, inclusive Davina, que saiu rumo a um bailinho que era  para ser leve. 

Leve,  como seu peso no colo dos seus machos...

Digo seus, e de suas esposas na maioria das vezes. Mas era ela quem tinha a árdua  missão de realizar a cura espiritual em seus corpos, através do que ela sabia fazer de melhor: Dominar...

Uma breve pausa para a rima: Davina, divina, chega e domina....  

Ela atuava como Dominatrix, atendia homens  com  sede de alucinarem-se, queriam fugir de suas realidades miseráveis.

Miseráveis milionários! Miseráveis, empresários. Miseráveis policiais sadomasoquistas! Miseráveis vereadores. Miseráveis miseráveis do submundo!

E miserável da minha miserável preferida: Davina, divina, me domina..

Tem uma sina essa menina...

Ela ensina...

Assassina.

Assassina seus amores, digo. Vez  ou outra sente a necessidade de sacrificar um outro, desamar, desalmar, eliminar de sua vida.

Davina não tem amores. Davina tem dores.

Davina cura a dor dos seus clientes(pacientes ela diz), e assim,  sente que um pouco da sua dor também é curada em cada sessão.

Em cada corpo vivo que ela urina. Em cada corpo vivo e nu que ela bate. Em cada nojeira que ela faz nos quartos de motéis, hotéis, salas comerciais, delegaciais, quartéis, cemitérios, prefeituras, mansões,  florestas...

É... não é brincadeira. Os doidos estão por toda a cidade.

E... neste sábado, ela estava numa baladinha, onde vem sendo o “fluxo” das festas na cidade.

Pensou ela, antes de sair para o baile: “Eu só trabalho.. trabalho... atendo os doidos, deixo eles doidos...  hoje eu é que quero ficar doida, ou me sentir normal...e vou!”

Dessa vez saiu bem simples, seu look não combinava com a festa. Ela usava uma rasteirinha azul, calça verde e florida, e uma camiseta branca, florida também. Cabelo solto na cara, óculos vermelho da coleção Ana  Hickman.

Chegando no fervo, um segurança receptivo disse:

- Veio cedo hoje!

-Sim, hoje ninguém me escapa...

-Essa aí já é de casa- comentou  também uma mulher segurança da festa.

Revistou seus peitos, e  deixou- a entrar com seus amigos, os irmãos Bauers .

-Ainda bem que deixei minha “arminha”  no carro. tenho maus pressentimentos hoje– falou Davina para a irmã Bauer, sua amiga.

Chegando na festa, estava um calor infernal agradável rsrsrsrs

O irmão Bauer foi até o bar da festa para comprar bebidas, e as duas ficaram no segundo andar “dançandinho”.

Muitas pessoas conhecidas indo até elas para cumprimentar e pessoas desconhecidas também...

Davina levava uma vida secreta, por muito tempo, mas começava a perceber que era reconhecida e sua fama estava se espalhando por entre as pessoas, rápido demais.

-Você que é a Dominatrix da região?

-Não, ela é só uma personagem que eu criei há um tempo, mas eu Davina, sou uma pessoa diferente – rebatia ela, como se tivesse julgando a si mesma e deixando assim de lado os seus princípios.

Frustrada  ela estava, porque o eixo daquela situação (de ser a Dominatrix da cidade)  em que foi se meter parecia estar cada dia tomando maior proporção. Ela não estava  sabendo lidar com a ideia de “todo mundo” ali saber quem ela era, o que ela era ou que ‘ela era ela”.

Então, para se sentir normal, foi à procura de algo que a fizesse curtir a balada e dançar.

Procurou, encontrou.

 Encontrou um menino, se beijaram, e  por lá dançaram e tomaram umas aguas coloridas juntos.

Em seguida, Davina disse que queria mais um gole de sua água colorida, porém o menino recusou

-Por  que?  - Se indignou

-Se quiser mais um gole dessa bebida mágica, você terá que ir comigo até meu carro, lá tem muito mais...

Nesse momento, Davina foi tomada por uma força odiosa, e sentiu vontade de chorar.

Foi até o banheiro da festa chorar. Lá chorando, na fila do banheiro, o menino apareceu  e começou a rir:

- Tá chorando por que? Meee chorando por causa de drogas hahahahahahahah – debochou ele.

Ela nesse instante enxugou as lágrimas e incorporou a Dominatrix, com um belo e maligno sorriso no rosto.

Davina pensou:

-Esse guri nem faz ideia de quem eu realmente sou, ele acha que sou uma puta comum e barata! Agora eu vou mostrar pra ele quem que manda.

 

-Eu chorei porque interpretei mal o que você disse. Vamos lá fora agora então, no seu carro...

 

E o menino aceitou, empolgado porque iria “pegar a gatinha cafona” no carro. Lá foram de mãos dadas, desviando das pessoas que dançavam e curtiam cada um a sua vibe.

Saindo do salão principal da festa, chegaram num corredor escuro,  que antecedia a porta de saída do estabelecimento. E foi ali mesmo que a Dominatrix entrou em ação. Ela o jogou contra a parede, com muito ódio no olhar que, profundo  o encarava bem dentro de seus olhinhos assustados. Ela colocou suas duas mãos em seu pescoço e começou a apertar, apertar, e suas unhas afiadas cravaram na pele do pobre menino, que só queria transar.

Para a sorte do menino, um segurança chegou e o salvou das garras de Davina, que já se sentia bem melhor e aliviada.

 

Davina disse para o segurança:

-Eu só estava fazendo uma amostra grátis do meu trabalho e habilidades de Dominatrix. Toma aqui meu cartão de visita, senhor guarda, caso tiver interesse em agendar uma sessão – Deu uma piscadinha para o guarda e voltou para a festa, com o “sorriso de curinga” mais sensual que poderiam ver naquela noite, e, se contendo para não gargalhar.

 

O guarda olhou para o chão e avistou um pacote com vários comprimidos de ecstasy, enquanto o menino chorava aterrorizado  e ainda contra a parede.